Depósito No Banco Emocional

Certa vez li em um livro (agora não me lembro qual foi), que relacionamentos são construídos e alimentados como num “Banco” emocional. Para utilizar os serviços de um Banco, você precisa primeiro abrir uma conta, depositar dinheiro lá, para só então poder sacar, investir, emprestar ou fazer todas as outras transações bancárias. A nossa vida emocional funciona de maneira muito semelhante: é preciso primeiro investir, depositar, cuidar, construir, para que se possa fazer um bom uso da “conta corrente”. Você deve estar se perguntando do que estou tentando falar, afinal… É que essa semana estive pensando em alguns relacionamentos construídos ao longo da minha vida e estava fazendo o link com o assunto abordado no tal livro. Meu maior depósito emocional atualmente são as palavras de minha mãe.

Não é mistério para ninguém que o apoio emocional da família, ou daqueles que a gente ama, é FUNDAMENTAL em qualquer tipo de mudança na vida. Somos seres que precisam de apoio, incentivo, acordo. Especialmente, quando o assunto é MUDAR DE PAÍS… O apoio da família, amigos, pessoas importantes pra gente, acaba fazendo toda a diferença. É claro que se trata de uma questão muito paradoxa, porque aqueles que amam a gente, querem nos ter por perto. Fato. Mas quem ama mesmo, acima de tudo, deseja ver a gente bem, feliz, vivendo o melhor de Deus para as nossas vidas. Sem querer parecer piegas, ou abusar de jargões românticos, o amor verdadeiro não é egoísta, nem egocêntrico.

Dia desses, falando com a minha mãe querida ao telefone, fui percebendo o quanto o apoio dela tem sido fundamental em minha adaptação por aqui. Bem, minha mãe é uma mulher simples, que muito cedo parou de estudar, para trabalhar e ajudar no sustento de sua família, em virtude da morte do meu avô. Seu maior sonho era ser Professora, mas ela não conseguiu realizá-lo. A vida, os problemas, as dificuldades, acabaram por impedir minha mãe de se formar e adquirir uma formação secular, mas nunca foram empecilhos para que ela se tornasse uma mulher de muita sabedoria. Em sua simplicidade, posso afirmar que ela é a mulher mais forte, guerreira e determinada que eu conheço e, ao mesmo tempo, de uma doçura ímpar. Não existem traços de amargura, rebeldia ou insatisfação em seu caráter. Com os limões que a vida traz, ela sempre encontra um jeitinho de fazer limonada, extraindo o melhor de absolutamente TUDO! Tem o coração mais grato que eu já conheci…

Em nossa última conversa, depois de uma hora e meia batendo papo, sobre os mais diversos assuntos, ela começou a dizer o quanto eu devo ser grata pela experiência de viver na Austrália. Lembrou-me de quando meu marido, ainda adolescente, saiu de casa para estudar em outra cidade, do quanto ele estudou, batalhou, fez estágio, Inglês, até chegar à essa oportunidade que a vida reservou para nós. E começou a dizer o quanto ela se sente feliz pela gente, pelos netos que têm tido a chance de receber uma formação aqui, por saber que temos qualidade de vida, segurança, enfim, pela nossa realidade de vida aqui em Melbourne… Inevitavelmente, comecei a me analisar, ouvindo ela falar com tanto entusiasmo, me questionando se eu mesma tenho tido essa clareza e frescor de pensamento, com relação a essa nossa experiência de vida. E ela me dizia para tirar disso tudo o máximo de coisas boas que eu conseguir… E terminou dizendo que ela sente muita falta da gente, mas quando ela pensa em como isso tudo é bom para nós todos, o coração dela fica cheio de alegria! Uma incentivadora nata, essa minha mãe…

Essa motivação, que brota das palavras dela, me contagia sempre e, quando desligo, estou com o coração cheio de coragem, para enfrentar os desafios de viver longe, de ser estrangeiro numa outra terra, de vencer os obstáculos que a gente enfrenta a cada momento, longe “de casa”… Sinto como se tivesse feito a escolha “certa”. Sei que nem todas as famílias, nem todas as mães, conseguem pensar ou falar do mesmo modo, por isso decidi compartilhar a “fofurice” da minha própria mãe com todos vocês que leêm o meu Blog.

Ao terminar essa nossa última conversa, eu estava chorando, porque me bateu uma saudade arrebatadora dentro do peito, uma vontade incontrolável de abraçar a minha mãe bem forte. Vontade de sugar cada palavrinha dela e guardar bem amarradinho no fundo do meu coração, para nunca esquecer do que ela me diz… Então, ela começou a dizer: “Não chora minha filha, vai ficar tudo bem!” E perguntou porque eu estava chorando tanto. Disse que era saudade, pura e simples. E ela então me respondeu: “Saudade é uma coisa boa, sabia? Porque quando a gente sente a saudade é porque a pessoa foi pra longe da gente e mesmo assim o sentimento nunca muda. A gente descobre que, mesmo longe, continua amando do mesmo jeito. Isso não é uma coisa boa? Eu te amo do mesmo jeito, todo dia.”

E eu, aqui do meu lado do mundo, fechei os olhos e agradeci de coração a Deus, pela minha vida, pela oportunidade de estarmos aqui, por aprender mais sobre a saudade, e acima de tudo, pela vida da minha mãe. Sem sombra de dúvida, não existe NENHUMA outra pessoa no mundo inteiro, de quem eu gostaria de ter vindo. Tenho orgulho de ser filha dela. Tenho orgulho de ser quem eu sou, porque sou assim por ser filha dela. Se no final da minha vida, eu conseguir me tornar, um pouquinho que seja, parecida com ela, terá valido a pena!  E agradeço pelo incentivo que ela me dá, pelas suas atitudes e palavras doces, nunca permitindo que eu me sinta culpada ou egoísta por estar vivendo tão longe. E, como ela mesma já me disse tantas vezes, “se eu te amo, eu quero sempre o melhor para você, mesmo que o seu melhor seja aí na Austrália.”

Minha mãezinha linda e eu!
Minha mãezinha linda e eu!

18 comentários em “Depósito No Banco Emocional”

  1. Carol, estou em lágrimas. Lindo post. Engraçado como a gente vive realidades tão parecidas. Também me sinto exatamente assim. E hoje tive uma conversa desse tipo com minha mãe e meu pai, de quem estou morrendo de saudades. Coisas que a gente tem que administrar, né?
    Beijos
    Livia

    1. Livia, querida!

      Não era minha intenção fazê-la chorar, me desculpe! Obrigada!
      Somos privilegiadas pelos pais que temos, não somos?
      E a saudade, ah, essa é de fato apenas uma questão de administração, porque passar mesmo, não vai nunca…

      Beijo, flor!

    1. Oie meu amigo querido!

      Advinha só a quem eu puxei? Ela também escreve!!! Esses dias ela me disse que estava muito triste, lembrando de um amigo da nossa família que faleceu há poucos dias, então sentou, pegou um papel e escreveu umas palavras… Aí, pronto, ela se sentiu bem melhor depois dos versos que fez! Essa é a minha mãezinha, que você conhece tão bem…

      Beijo e saudade, sempre!

    1. Oie Vê…

      Que bom que gostou! Chorei também ao escrever, mas é um choro bom… Estou com planos de começar a gravar algumas conversas com a minha mãe, de tão boas que são!

      Beijo, amiga! Saudades…

  2. Lindo post Carol! E tão se ecacaixa tão bem ao momento que estou passando! Destes 4 meses que estou em Melbourne este é o que mais tenho me sentido triste por causa da saudades! Mas tb tenho recebido tanto apoio dos meus pais e família no Brasil que faz td valer apena!!
    Parabéns pelo texto! Mto sábia sua mãe!
    bjo

    1. Obrigada, Paula!

      Minha mãezinha é um presente de Deus pra mim…
      Sei muito bem o que vc está sentindo; os primeiros meses são super dolorosos, mas não perca nunca a alegria de estar aqui e procure ver o lado bom e positivo de TUDO!
      Apoio é tudo de bom, né? Faz a gente se sentir mais leve…

      Obrigada!
      Beijo.

  3. Oi Carol
    É Incrível como você consegue tocar meu coração. Mesmo longe, mesmo sem te conhever pessoalmente (ainda) te admiro e te agradeço por me ajudar a enxergar de uma forma tão clara que a experiência de vivermos aqui na Austrália, longe de quase todos, do nosso país, da nossa zona de conforto deve ser encarada como uma oportunidade de crescimento e que devemos agradecer a Deus por isso. Obrigada por compartilhar conosco as palavras sábias da sua mamãe. Tenho certeza que se a minha estivesse entre nós ainda ela estaria nos apoiando também. Felicidades linda e ainda tenho esperanças de voar de Darwin p/ Melbourne p/ tomar um café e te dar um abraço.

    1. Que recadinho carinhoso, Lourdes! Obrigada!
      Fico feliz por ser canal de Deus para te ajudar com as minhas palavras… Se isso tem acontecido, pronto! Já valeu a pena escrever esse Blog!
      Espero de coração que um dia você venha a Melbourne, ou quem sabe eu vá a Darwin, e a gente possa enfim se encontrar pessoalmente!

      Grande abraço!

  4. Carol…nem preciso dizer aqui que chorei…é exatamente assim…Como sou previlegiada em poder te conhecer…vc é uma mulher de Deus.!!!!

  5. Carol minha linda afilhada que amo! ‘Quando li este artigo, simplesmente chorei junto com você. Morar longe de mãe querida, amada é difícil demais da conta. Mas mesmo morando longe da minha tenho consigo com mais frequencia revê-la. Tem um Padre que gosto demais daqui que canta assim: “Só se tem saudade do que é bom, se chorei de saudade não foi por fraqueza, foi porque eu amei. Sei eu amei quem vai me condenar, se eu chorei quem vai cruscificar…só se tem saudade do que é bom! EU SINTO MUITA SAUDADE NÃO SÓ DE MINHA MÃE, MAS DE VOCÊS!” Que Deus os protejam os abençoem, e cuidem de vocês com muito amor. Pois são especiais para nós! Bjossss Elanni.

    1. Olá minha madrinha querida!

      Viver com saudade não é fácil, não, né? Mas também gosto de pensar que a saudade só pode ser positiva… Ninguém sente saudade de algo que não ama, não deseja! Hoje, tenho aprendido a viver, a conviver e até mesmo a simpatizar com a dita-cuja! Hahahahha! Também sentimos muita saudade de vocês, família linda que nós amamos muito!
      Venham nos visitar, por favor! Garanto que será um passeio inesquecível! Porque conhecer a Austrália é bom, mas na minha companhia, é PER-FEI-TO! Risos! Te amo!!! Beijo.

  6. Ola! Uma amiga minha do Brasil me mandou esse seu link falando sobre saudades( como eu moro em Sydney, longe da familia e amigos, as vezes bate uma saudade! ) e achou que eu iria gostar de ler! Adorei! Acabei chorando tambem!rsrs…Super bacana viu! 🙂 Pois eh..com o tempo a gente aprende a administrar tudo isso… mas saudades sempre sentiremos,ne!

    1. Pois é, Fernanda, ela NUNCA passa!
      A gente acaba aprendendo a administrar só…
      Que bom que gostou! Gosto de dividir minhas dores com gente que se identifica. A gente não se sente tão sozinha em nossos dilemas, sabendo que tem mais gente no mesmo barco, né?

      Abraço.

  7. SImples assim são nossas mães que pensam na gente 24h por dia, e tudo que elas queriam é que a gente pudesse estar perto! mas o amor é tão incondiconal que ela tiram forças não sei dá onde para continuar longe da gente e ainda dizer isso, mesmo querendo esta perto! Isso se chama amor! em lágrimas…Cida

    1. Olá Cida, tudp bem???

      Verdade! Tenho certeza de que a minha mãezinha, se pudesse escolher, diria que a preferência dela é ter a gente por perto. Porém, como ela sempre diz: “prefiro mesmo é ver meus filhos felizes”!

      Grande abraço!

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