Brasileiros Ao Redor De Uma Mesa

Numa mesa rodeada de amigos brasileiros e um chá da tarde maravilhoso, conversávamos ontem sobre nossa experiência de viver fora do Brasil, nossas lutas e adaptações, o processo doloroso e longo de, enfim, se redescobrir, se reinventar e se ver definitivamente inserido no lugar que escolhemos pra viver. Quando esse assunto vem à tona, inevitavelmente o meu Blog é citado como fator muito importante no meu processo de adaptação e meu período de depressão e saudade excessiva de casa, no começo da nossa jornada por aqui. Alguns desses amigos ao redor da mesa, não por coincidência, são pessoas que conheci através do Blog, dando dicas, sugestões, respondendo perguntas e construindo, lentamente, relacionamentos que hoje se tornaram parte da minha história de vida aqui na Austrália.

Comentamos inclusive, que há muito tempo eu estava sem escrever e sem responder comentários por aqui. Perdoem-me todos aqueles que estão na espera, até mesmo os que já desistiram; tenho estado bastante ocupada estudando e trabalhando! A vida de fato seguiu; as coisas realmente aconteceram, e hoje me encontro quase sem tempo pro meu amado turismo australiano e pra atualizar meu Blog queridinho. “Antes tarde do que MAIS tarde”, diria a sabedoria popular internáutica facebookiana! Hahaha!

O que conversamos ao redor daquela mesa, por horas, seria de uma riqueza imensurável a cada brasileiro que sonha um dia deixar nosso país e se aventurar em terras australianas… É tanta riqueza, são tantas experiências de vida, conquistas, a busca constante do “lugar ao sol”, muitas lágrimas derramadas ao longo do processo, muita saudade “de casa”! Comentei com o pessoal que certamente iria escrever hoje, inspirada pelo papo simples de imigrantes brasileiros numa tarde de sábado qualquer. Relembrei meu próprio processo, de dor, de saudade, de não falar Inglês, até de depressão nos primeiros anos. E é gratificante demais quando a gente olha para trás, relembra, revive e até re-visita alguns lugares escondidos dentro da nossa alma, e se surpreende com nosso próprio processo de superação pessoal.

Numa mesa cheia de imigrantes brasileiros, longe de casa, se fala de futebol, de Copa do Mundo, de política, de corrupção; se fala de comida (enquanto se come muito, sempre!), de carreira, de oportunidades, de saudade e de família. Mas acima de tudo, se fala apaixonadamente de esperança, de futuro, de afinidades e sentimentos ambíguos; se compartilha sonhos,  experiências, se fala de trabalho e de expectativas. Muitas vezes falamos de frustrações e decepções; muitas vezes choramos juntos e nos emocionamos com o processo do outro…

Pessoas tão diferentes, de várias partes do nosso país, que se encontram do outro lado do mundo e estreitam laços de amizade e muitas vezes até de família mesmo. Algumas delas, tão fascinantes e de personalidades tão encantadoras, me fazem silenciar e agradecer a oportunidade de estar ali. Momentos como esses só são possíveis, porque um dia, cada uma dessas pessoas ao redor daquela mesa, decidiu sair de sua zona de conforto e ir em busca de algo… O processo de imigração exerce sobre mim um fascínio tão grande, que faz tudo valer a pena; e a coisa mais gratificante desse processo todo, com certeza, são os imigrantes com quem a gente esbarra no caminho, tornando essa aventura cada vez mais fascinante. Gente diferente, com diferentes crenças, hábitos, idéias, profissões, mas com histórias de vida encantadoras… Por si só, isso já é um grande privilégio e de um crescimento pessoal indescritível.

“Uma mente uma vez expandida jamais retorna ao seu estado original”- Albert Einstein

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pequena Lista De Grandes Ajudas

Definitivamente, uma das coisas que as pessoas mais me perguntam, por email ou pessoalmente, quando falamos sobre o processo de adaptação fora do país da gente, é como fazer para tornar o começo mais fácil, menos doloroso ou, pelo menos, mais suportável. Enquanto respondo, várias pequenas coisinhas importantes vêm à minha mente. Sempre sugiro algumas delas, para vários tipos de pessoas diferentes. Hoje, quando fui pra cama, tinha acabado de responder à um email com o mesmo tipo de dúvida e ansiedade. Então pensei: uma hora vou ter que organizar uma lista sobre o assunto… (Apenas a título de curiosidade, eu ADORO uma lista!) Resultado? Fiquei rolando na cama, com a cabeça fervendo de palavras! Cá estou eu, às 2:50 da manhã, organizando uma lista de atitudes que podem garantir um pequeno refrigério na vida daqueles que, num belo dia (ou fatídico, depende do ponto de vista!), decidiram migrar pra outro canto do mundo.

Se um dia você bateu com a cabeça e decidiu mudar de vida, largar tudo e recomeçar em um novo lugar, talvez tenha também várias dicas. Essas que compilei hoje, em minha fracassada tentativa de sono, refletem bem a minha experiência pessoal, coisas que fui aprendendo com a minha própria vivência por aqui. Olhando hoje para trás, me assombro um pouco com essa coisa doida de juntar as poucas tralhas da gente e sair pelo mundo, tentando uma vida nova. Só pode ser coisa de gente estranha, não tem outra explicação! Perdoem-me todos os companheiros imigrantes, espalhados por esse mundão afora; mas NORMAL a gente não é… Não pode ser! De qualquer forma, anormal ou não, depois de consumado o fato, a gente tem mesmo é que tentar fazer do período de adaptação o melhor que a gente puder. O que tenho visto que ajuda? O seguinte:

APRENDER A LÍNGUA LOCAL: na boa, não tem nada que deixe a gente mais a vontade, do que falar o idioma do lugar que você escolheu pra viver. É difícil a gente ter a sensação de “pertencer”, se não consegue se comunicar, não é? Todo o esforço nesse sentido, só vai trazer benefícios. Se você tiver planos de construir ou continuar uma carreira, então, aí se torna IM-PRES-CIN-DÍ-VEL!

FAZER NOVAS AMIZADES: nem vem com esse papo de timidez, de que “eu não sou uma pessoa muito sociável”, porque aí vai ficar complicado. Sem amigos, fica impossível! Eles se tornam a família da gente longe de casa, embora isso não pareça algo muito simples. Primeiro: é impossível querer comparar seus amigos que ficaram lá no Brasil, que conviviam com você desde o Jardim da Infância, ou foram criados na mesma rua jogando bola, ou trabalharam com você durante toda a sua vida… A gente leva tempo para construir relacionamentos verdadeiros e na base da confiança; não foi assim ao longo de toda a sua vida? Será assim também no novo país; tenha paciência. Segundo: não é porque o cara é brasileiro que vai se tornar seu “BFF” (Best Friend Forever) da noite para o dia! Brasileiro no exterior tem essa mania: encontra um conterrâneo e já acha que encontrou uma “alma gêmea”!  Com o tempo, você vai percebendo que é fundamental ser amigo de gente que tem a ver com você e te acrescenta, te faz bem. E vice-versa. De qualquer forma, passar o período de adaptação sozinho só vai tornar as coisas mais duras pra você.

EXPLORAR O LOCAL: se você for como eu, vai amar descobrir cada cantinho legal do seu novo lugar. Gaste tempo andando, conhecendo, passeando, explorando, experimentando… Em breve, terá novos lugares prediletos, comidas preferidas e chegará até mesmo a se questionar como pôde viver tanto tempo sem ter experimentado certas coisas incríveis, que agora fazem parte de sua rotina. Comigo funciona até hoje: bateu deprê, muita saudade, acordei com vontade de chorar? É dia de TURISMO!!! Com direito a câmera fotográfica!!! Olha, super ajuda!

CULTIVAR  SEU HOBBY: especialmente para quem veio de uma rotina frenética no Brasil, como eu, sem tempo pra quase nada, chegar aqui foi um (bom) susto! Até me acostumar com uma vida BEM mais calma, tranquila e sem tantos compromissos, levou tempo. E como é bom você enfim ter momentos só seus, para fazer o que realmente te dá prazer! É isso. A palavra é PRAZER. Busque fazer coisas que trazem alegria interior, que colocam um sorriso por dia no seu rosto… Muda tudo!

PRATICAR EXERCÍCIOS FÍSICOS: não é segredo pra ninguém que a prática constante de exercícios libera uma substância natural chamada endorfina, que regula a emoção e traz sensação de bem estar. Nem todo mundo é fã disso, eu sei, mas é importante que você descubra algo que gosta de fazer e vá fundo! Os efeitos são incríveis!

CONHECER-SE MAIS: querendo ou não, buscando ou não, a experiência de mudar-se pra longe vai revelar coisas sobre você, seus sentimentos, seus valores, seus hábitos, suas posturas na vida, sua essência… Tudo fica muito à flor da pele; as coisas tomam proporções desenfreadas, muitas vezes… Esteja pronto para surpreender-se consigo mesmo! E para o próximo item da lista:

RESPEITAR-SE: com a melhora do auto-conhecimento, a gente passa a valorizar muito mais a si mesmo. É importante CONHECER e RESPEITAR seus limites. Vai ter dia que você vai querer sumir do mundo; outros, em que vai se arrepender profundamente de ter migrado! Haverá dia que você vai se perguntar mil vezes: que raios eu estou fazendo aqui??? E vai ter dia de bode, que vai querer curtir a saudade, ficar no seu canto até a coisa passar… Vá lá, permita-se! Mas não se demore muito lá, porque deprê também vicia.

MANTER CONTATO COM GENTE IMPORTANTE PRA VOCÊ: ô ponto delicado, esse! Quando a gente muda pro exterior, parece até que vira celebridade. Um batalhão de gente te adiciona no Facebook, Orkut, Google+, Twitter, e tudo quanto é raio de rede social. Sua vida parece que passa a ser mais interessante pros outros. E até gente que parece amar mais você do que antes. É, acontece… E quer saber? O tempo e a distância são excelentes formas de aperfeiçoamento de relações: o que é verdadeiro, até se estreita; o que não é, vai se tornando névoa, até você um dia perceber que está passando muito bem sem aquela pessoa, obrigada!!! Mas tem um tipo de gente, que você pode rodar o mundo, ver coisas fascinantes, viver experiências incríveis, que ainda vai te fazer tanta falta, que em alguns dias, você mal vai conseguir respirar pela ausência delas! Com essas pessoas, faça o que for pra manter contato: você não vive MESMO sem elas!

E por fim, o mais importante:

CULTIVAR UM RELACIONAMENTO COM DEUS: ainda que você não seja uma pessoa “espiritualizada”, ou não se considere um cara “de fé”, em vários momentos você vai perceber que PRECISA crer em algo muito maior. Quando alguém que você ama adoece, por exemplo. Quando alguém morre e você estava longe sem poder dizer o que deveria ser dito. Ou quando você adoece e se sente sozinho, sem as pessoas que mais ama por perto… Enfim, existem momentos que somente a fé mantém a gente em pé. Especialmente longe de casa, das pessoas de sempre e da nossa zona de conforto. Manter a fé operante num momento de tantas mudanças só contribui positivamente, é sério. Sem a minha fé, eu já teria chutado tudo isso aqui pra cima, logo no começo. Obrigada Deus, por ter me ajudado até aqui!

Nossa gente, o post ficou enorme! Desculpe-me. E lá se foi uma noite de sono. Porém, se eu conseguir ajudar alguém com a minha experiência, já terá valido muito a pena… Ufa! Agora posso dormir. As palavras por fim ocuparam seu lugar e minha mente ficou em silêncio…

fugindo de casa

Dia de Aniversário Número 4

Pois é. Quem diria? “O tempo passa, o tempo voa.” O que não passa é a saudade, a lembrança, a vontade de estar perto de quem se ama. Pensei muito sobre o que eu poderia escrever para comemorar o quarto aniversário de Austrália, mas a conclusão foi óbvia: como sempre, decidi que deveria escrever com o coração, ser sincera. Falar a verdade. Pelo menos, a minha verdade. Depois de todo esse tempo vivendo longe, posso garantir apenas um ponto: o que o tempo NÃO CURA MESMO é a falta que algumas pessoas fazem no nosso dia-a dia. Se eu tenho aprendido algo, que seja relevante compartilhar, esse algo seria o seguinte: apenas amor de verdade vence a barreira do tempo, da distância e da ausência.

Depois de quatro (longos) anos, a realidade é uma só: a nova língua, antes amedrontadora, a gente domina. A cultura, antes tão diferente, a gente se acostuma; na real, a gente até se amolda. Lidar com as diferenças no ambiente de trabalho, a gente reaprende. Enfrentar os desafios diários de uma nova sociedade, a gente tira de letra. Construir novos círculos de amizade, conhecer gente nova a todo instante, a gente se adapta. Temperatura, clima, comida, diversidade cultural, diferença de fuso horário, de moeda, a gente se ajusta. Mas ficar longe de quem a gente AMA, nunca se torna simples ou superável, não importa quanto tempo passe…

Pode parecer “tema de novela”, de filme, tema de poesia, verso ou prosa, até letra de música. Pode soar piegas, cafona, jargão, o que for… O grande e único desafio de morar fora é conviver com a falta que as pessoas importantes fazem em nossa vida diária. Isso não passa. Não há cura para a ausência de gente querida. A gente apenas aprende a administrar. E aí é que está o “pulo do gato”: administrar os sentimentos. Nunca antes controle emocional e domínio próprio me pareceram tão fundamentais! Há momentos em que a gente tem que parar, pensar e dizer a si mesmo: respira fundo, racionaliza e continua andando. E não pira, por favor!

Vale ressaltar que a gente aprende, inclusive (ou seria PRINCIPALMENTE?), a questionar cada vez mais a veracidade dos nossos sentimentos e dos sentimentos dos outros sobre nós. A gente aprende a valorizar quem realmente faz diferença na nossa vida, porque percebe que viver sem algumas pessoas é muito difícil; já outras, nem tanto… Distância supervaloriza relacionamentos de verdade e expõe relações superficiais. E tem coisa mais legal do que conhecer melhor a si mesmo, conhecer com mais clareza o que a gente sente, conhecer melhor as pessoas com quem a gente se relaciona, ou as bases de relacionamentos que construímos ao longo de uma vida???

Só tenho o que comemorar nesse aniversário de 4 anos. Tenho apenas motivos para brindar e celebrar. Um brinde à vida, aos verdadeiros amigos e verdadeiros amores, às pessoas que permanecem, mesmo estando distantes. Um brinde àqueles que se esforçam em permanecer presentes, mesmo que a distância física nos impeça o abraço. Àqueles que nos fazem rir, chorar, calar, amar, gargalhar, pensar, mesmo que um oceano nos separe. Um brinde aos novos amigos, que partilham com a gente a mesma dor da ausência. Um brinde ao país maravilhoso que nos recebeu de braços abertos. Um brinde àqueles que têm o privilégio de viver entre dois países, duas culturas, dois povos, duas línguas e ainda conseguem encontrar espaço em seus corações para AMAR e RESPEITAR a ambos. CHEERS!!!

O Poder de Cura da Auto-Permissão

Quem acompanha o meu Blog sabe que tento sempre animar a todos; levantar o astral, encorajar, motivar e dizer tudo que esse lugar tem de bom, de positivo, tudo que torna a Austrália um canto tão especial desse mundo! Afinal, se a minha opinião escrita não edifica, não encoraja e não motiva, nem acho que ela mereça ser ouvida (nesse caso, lida)! Porém, como todo mundo, tenho os meus dias de abrir os olhos e desejar voltar pra debaixo das cobertas e só sair de lá tipo, uns 2 meses depois… Nesses dias, a maior inimiga é a minha própria auto-motivação. Não me permito ficar chorando pelos cantos, resmungando, sofrendo, com pena de mim mesma. Nunca. Tenho técnicas altamente desenvolvidas para uso pessoal e divido isso com as outras pessoas. Quando acordo assim, começo logo a criar uma série de coisas pra fazer, tipo uma agenda de “renovo de ânimo” para o dia: vou passear pela linda cidade de Melbourne, sentar no meu café predileto, comer uma sobremesa divina de chocolate, sem nem pensar nas calorias; vou bater pernas no Shopping, ver vitrines, ou visitar meus pontos turísticos favoritos. Sempre funciona. E ensino isso para todas as pessoas que se sentem meio pra baixo por aqui…

Bem, longe de mim querer me contradizer, ou desabonar minha própria teoria de que, mudando de ares, de pensamento, de foco, de paisagem, as coisas vão melhorando dentro da gente. Acredito nisso. Faço isso. Vivo isso. Porém, hoje eu decidi me permitir… Acordei com uma saudade quase palpável, de tão forte. A presença dela era tão real, que quase pude vê-la e convidá-la para um café e uma boa prosa… Foi o que eu fiz! Não tentei fugir dela, nem enganá-la. Não criei subterfúgio algum para desviar a dor da mente, nem do coração. Ao contrário, me permiti sentir, com a força do meu coração! Chorei. Lembrei. Ouvi músicas. Revi fotos. Busquei fragmentos na memória, cheiros, cores, sabores, conversas, abraços, carinhos… Chorei de novo. Deixei recados nas timelines de alguns dos meus amores no Facebook. Declarei meu amor por eles. Chorei mais um pouco. Gastei algumas horas papeando no Skype com gente que amo  e sinto falta todo dia. E termino esse dia chorando mais um pouquinho e esperando minha mãe acordar lá no Brasil, pra poder ligar pra ela e falar do meu amor. E chorar mais um bocadinho, “no colo” de quem me socorreu a vida toda, quando eu sempre precisei…

Enfim, eu só queria que todas as pessoas pra quem já dei o conselho de superar a tristeza, dominar os pensamentos e as emoções ou mudar o rumo de um dia triste, soubessem que a gente se permitir sofrer em algumas ocasiões também é curador. Curtir um pouquinho de saudade, de amor não correspondido ou qualquer tipo de perda, também é um meio de extravasar a angústia de dentro do peito. Mas vamos combinar?  Amanhã a gente já retoma o controle da situação, certo???

A razão da minha saudade…

Depósito No Banco Emocional

Certa vez li em um livro (agora não me lembro qual foi), que relacionamentos são construídos e alimentados como num “Banco” emocional. Para utilizar os serviços de um Banco, você precisa primeiro abrir uma conta, depositar dinheiro lá, para só então poder sacar, investir, emprestar ou fazer todas as outras transações bancárias. A nossa vida emocional funciona de maneira muito semelhante: é preciso primeiro investir, depositar, cuidar, construir, para que se possa fazer um bom uso da “conta corrente”. Você deve estar se perguntando do que estou tentando falar, afinal… É que essa semana estive pensando em alguns relacionamentos construídos ao longo da minha vida e estava fazendo o link com o assunto abordado no tal livro. Meu maior depósito emocional atualmente são as palavras de minha mãe.

Não é mistério para ninguém que o apoio emocional da família, ou daqueles que a gente ama, é FUNDAMENTAL em qualquer tipo de mudança na vida. Somos seres que precisam de apoio, incentivo, acordo. Especialmente, quando o assunto é MUDAR DE PAÍS… O apoio da família, amigos, pessoas importantes pra gente, acaba fazendo toda a diferença. É claro que se trata de uma questão muito paradoxa, porque aqueles que amam a gente, querem nos ter por perto. Fato. Mas quem ama mesmo, acima de tudo, deseja ver a gente bem, feliz, vivendo o melhor de Deus para as nossas vidas. Sem querer parecer piegas, ou abusar de jargões românticos, o amor verdadeiro não é egoísta, nem egocêntrico.

Dia desses, falando com a minha mãe querida ao telefone, fui percebendo o quanto o apoio dela tem sido fundamental em minha adaptação por aqui. Bem, minha mãe é uma mulher simples, que muito cedo parou de estudar, para trabalhar e ajudar no sustento de sua família, em virtude da morte do meu avô. Seu maior sonho era ser Professora, mas ela não conseguiu realizá-lo. A vida, os problemas, as dificuldades, acabaram por impedir minha mãe de se formar e adquirir uma formação secular, mas nunca foram empecilhos para que ela se tornasse uma mulher de muita sabedoria. Em sua simplicidade, posso afirmar que ela é a mulher mais forte, guerreira e determinada que eu conheço e, ao mesmo tempo, de uma doçura ímpar. Não existem traços de amargura, rebeldia ou insatisfação em seu caráter. Com os limões que a vida traz, ela sempre encontra um jeitinho de fazer limonada, extraindo o melhor de absolutamente TUDO! Tem o coração mais grato que eu já conheci…

Em nossa última conversa, depois de uma hora e meia batendo papo, sobre os mais diversos assuntos, ela começou a dizer o quanto eu devo ser grata pela experiência de viver na Austrália. Lembrou-me de quando meu marido, ainda adolescente, saiu de casa para estudar em outra cidade, do quanto ele estudou, batalhou, fez estágio, Inglês, até chegar à essa oportunidade que a vida reservou para nós. E começou a dizer o quanto ela se sente feliz pela gente, pelos netos que têm tido a chance de receber uma formação aqui, por saber que temos qualidade de vida, segurança, enfim, pela nossa realidade de vida aqui em Melbourne… Inevitavelmente, comecei a me analisar, ouvindo ela falar com tanto entusiasmo, me questionando se eu mesma tenho tido essa clareza e frescor de pensamento, com relação a essa nossa experiência de vida. E ela me dizia para tirar disso tudo o máximo de coisas boas que eu conseguir… E terminou dizendo que ela sente muita falta da gente, mas quando ela pensa em como isso tudo é bom para nós todos, o coração dela fica cheio de alegria! Uma incentivadora nata, essa minha mãe…

Essa motivação, que brota das palavras dela, me contagia sempre e, quando desligo, estou com o coração cheio de coragem, para enfrentar os desafios de viver longe, de ser estrangeiro numa outra terra, de vencer os obstáculos que a gente enfrenta a cada momento, longe “de casa”… Sinto como se tivesse feito a escolha “certa”. Sei que nem todas as famílias, nem todas as mães, conseguem pensar ou falar do mesmo modo, por isso decidi compartilhar a “fofurice” da minha própria mãe com todos vocês que leêm o meu Blog.

Ao terminar essa nossa última conversa, eu estava chorando, porque me bateu uma saudade arrebatadora dentro do peito, uma vontade incontrolável de abraçar a minha mãe bem forte. Vontade de sugar cada palavrinha dela e guardar bem amarradinho no fundo do meu coração, para nunca esquecer do que ela me diz… Então, ela começou a dizer: “Não chora minha filha, vai ficar tudo bem!” E perguntou porque eu estava chorando tanto. Disse que era saudade, pura e simples. E ela então me respondeu: “Saudade é uma coisa boa, sabia? Porque quando a gente sente a saudade é porque a pessoa foi pra longe da gente e mesmo assim o sentimento nunca muda. A gente descobre que, mesmo longe, continua amando do mesmo jeito. Isso não é uma coisa boa? Eu te amo do mesmo jeito, todo dia.”

E eu, aqui do meu lado do mundo, fechei os olhos e agradeci de coração a Deus, pela minha vida, pela oportunidade de estarmos aqui, por aprender mais sobre a saudade, e acima de tudo, pela vida da minha mãe. Sem sombra de dúvida, não existe NENHUMA outra pessoa no mundo inteiro, de quem eu gostaria de ter vindo. Tenho orgulho de ser filha dela. Tenho orgulho de ser quem eu sou, porque sou assim por ser filha dela. Se no final da minha vida, eu conseguir me tornar, um pouquinho que seja, parecida com ela, terá valido a pena!  E agradeço pelo incentivo que ela me dá, pelas suas atitudes e palavras doces, nunca permitindo que eu me sinta culpada ou egoísta por estar vivendo tão longe. E, como ela mesma já me disse tantas vezes, “se eu te amo, eu quero sempre o melhor para você, mesmo que o seu melhor seja aí na Austrália.”

Minha mãezinha linda e eu!
Minha mãezinha linda e eu!

“O Caminho Só Existe Quando Você Passa”

Estávamos num restaurante, no almoço de Ano Novo entre amigos, quando uma amiga muito querida veio com a boa do dia: “Olha só, a gente tem que falar qual foi a melhor coisa que aconteceu no Ano que passou e os nossos planos para o Ano que chegou!” Ainda bem que não fui a primeira a responder, porque tive tempo de pensar um pouco… E eu não tive dúvida! Nenhuma. A melhor coisa que me aconteceu em 2011 foi ter aberto o meu coração (e os meus olhos) para viver na Austrália. No Ano que passou, decidi de uma vez por todas que o passado tinha ficado para trás. Descobri que Deus mesmo tinha me trazido para cá e que isso tudo fazia parte de um plano maior. Em 2011, finalmente soltei as amarras que me impediam de ver, de sentir, de viver, de amar, de me doar de coração para este lugar e todas as novas experiências que a vida aqui me trouxe.

Sou uma pessoa de 100 por cento. Tenho que estar envolvida CEM POR CENTO em tudo que faço. Odeio meio termo. De todo o meu coração. Detesto segundo plano, plano B, segundo lugar… Eu sou assim. Se eu me envolvo, quero estar totalmente envolvida. É uma coisa meio passional mesmo. Quando eu acredito em algo, abraço uma causa, eu vou até o fim! Mas quando desacredito, fico em cima do muro, tenho a sensação de estar engessada! Nada flui… E mesmo amando esse lugar, a qualidade de vida, a beleza, a facilidade do dia-a-dia australiano, esse povo e tudo que tem a ver com essa terra maravilhosa, eu não estava 100%! Meu coração era sempre dividido. Confuso. Bagunçado. Incerto. E então, na Convenção de Mulheres da Planetshakers (Beautiful Woman 2011), logo na primeira noite, o recado veio do alto e veio em claro e bom som: “DON’T LOOK BACK! LET IT GO!”

Ufa! Foi como se eu tivesse tirado um peso-de-não-sei-quantas-toneladas das minhas costas! E finalmente, eu decidi não olhar mais para trás, deixar tudo onde deveria ter ficado desde o início! Naquela noite, eu abri meu coração para Deus e pedi que Ele realmente me abrisse os olhos e me deixasse ver… E eu vi! Vi de verdade, de coração aberto, aquilo que me parecia tão impossível! Coloquei o meu passado, a nossa vida no Brasil, as coisas que eram e não são mais, nos seus devidos lugares… E me atrevi a olhar pra frente! Me atrevi a fazer uma análise de tudo que vivemos aqui, de todas as coisas maravilhosas, das bênçãos incontáveis que temos recebido, morando nesse lugar; e finalmente eu compreendi: é algo DENTRO da gente! A Austrália não mudou, a minha vida não mudou, a minha família não mudou, a minha realidade muito menos; EU MUDEI, naquele instante!

Desde então, estou curtindo esse lugar COMO NUNCA! Até as coisas que me irritavam tanto, como o mau (não tão bom!) atendimento nos restaurantes, ou em lojas e afins, perderam o poder de me tirar do sério… Hoje, as coisas são como são, porque são… Entendi lá dentro o significado de vida dos australianos, “NO WORRIES”! Tá tudo bem! De fato, está tudo muito bem! Não há nada com que se preocupar… E a minha ficha caiu de um jeito, que percebi como fui injusta com Deus, com a minha família e até com alguns amigos, que tentavam me animar, exaltando as qualidades da vida em Down Under. Só posso perdir perdão, a todos eles! E dizer que realmente, o problema estava aqui dentro, bem no fundo de mim…

Se você mora fora, está para sair do Brasil, ou passando por qualquer tipo de mudança radical em sua vida, posso afirmar sem medo: procure DENTRO de você, porque está lá! É uma mudança de paradigma, um simples jeito diferente de olhar ou de pensar, uma pequena permissão dentro do coração, para que as coisas tomem outra forma e seus olhos se abram… Eu me deixei abrir. Deixei meus olhos serem abertos. E não me arrependo. Antes tarde, do que mais tarde. Ou nunca! A saudade não mudou, as pessoas que eu sempre amei continuam sendo amadas, continuam importantes para mim, exatamente da mesma maneira. AS PESSOAS que eu deixei no Brasil ainda me roubam algumas noites de sono, ainda me fazem derrubar algumas lágrimas, ainda me permitem sonhar acordada, mas elas não me merecem tão amarga. Se são dignas do meu amor, são dignas de uma Carol mais leve, mais sorridente, mais otimista com relação ao futuro, mais “feliz”, quem sabe???

E, para aqueles que acompanham o Blog, fazendo planos para a tão sonhada imigração, mais do que nunca eu digo: “Keep going”! Nunca desistam de seus sonhos! Valorizem cada momento, desde o planejamento, a vinda, o tempo por aqui, ou em qualquer lugar desse mundo! A vida é uma só. E é curta! Encontre o seu caminho. Ele de fato, só existe, quando a gente passa…

Feliz Ano Novo pra todo mundo, daqui de Melbourne, essa minha cidade LINDA!

Voltando Ao (meu) Mundo Virtual

Olá leitores! Depois de “um longo e tenebroso inverno”, aqui estou eu de volta ao meu Blog! Sinto mesmo por ter sumido do mapa, mas estava terminando meu curso… Oficialmente DE FÉRIAS, tomei vergonha na cara e apareci para responder aos comentários, emails e afins! E vou me empenhar para estar presente em todo o meu período de descanso, porque tenho muita coisa para contar, dividir e comentar! Nunca tinha me acontecido antes uma ausência tão longa de vocês e dos meus posts; afinal, amo escrever! Mas, andei me dedicando bastante aos estudos nessa reta final!

Dezembro é um mês dos mais complicados para mim, vivendo tão longe da família, dos amigos, do meu país, das minhas raízes e tradições, por isso fico meio xarope… Mas vou tentar fazer desse mês mais alegre, escrevendo mais, dando mais dicas e compartilhando mais desse lugar lindo que escolhi (REALLY???) para viver! Além de Natal, Ano Novo e meu aniversário, é aniversário das minhas duas irmãs (inclusive, uma delas no MESMO DIA que eu)! Como se não bastasse, esse ano a minha melhor amiga está se casando lá no Brasil e eu não poderei compartilhar desse momento pessoalmente… Coisas de quem vive tão longe… E, além de longe, está caro pra caramba!

Então, tenho um longo e difícil DEZEMBRO para encarar logo ali, à minha frente! Nada melhor do que ter um lugarzinho para desabafar, não é?  Mas fiquem a vontade; caso eu esteja chata demais, ou azeda demais, não hesitem! Podem deixar de ler os posts mais amarguinhos, combinado?

Bom estar de volta, bom escrever e principalmente, bom poder desejar a todos um DEZEMBRO alegre, de esperanças renovadas, novos planos, sonhos e projetos! E, para aqueles que, como eu, têm um Dezembro a ser superado, em função da saudade que essa época do ano traz, muita força, luz, ânimo e fé em Deus! A gente consegue…

De qualquer forma, seja bem vindo, Sr. Dezembro!!!

Doença Crônica Julina!

Ano passado, nessa mesma época, eu estava no Brasil. Sozinha. Remediando a saudade da família e dos amigos, da minha cidade do coração (não sou jundiaiense de berço, mas amo como se fosse!), de algumas comidas prediletas e de alguns momentos únicos para mim. Meu marido e meus filhos ficaram aqui na Austrália. Literalmente, uma viagem paliativa. Como um Band-Aid emocional, em uma ferida gigante. A saudade dos meus filhos não me permitia curtir a cura da saudade de quem ficou no Brasil… Brincadeira bem SEM graça!

Mas os momentos que passei lá, com algumas pessoas absolutamente INSUBSTITUÍVEIS em minha vida, tornaram minha estadia aqui muito mais produtiva. Quando voltei, a Austrália parecia mais bonita, mais agradável, mais atrativa e totalmente capaz de se tornar “meu lar”! A sensação que eu tive quando cheguei, foi a de que tomamos a decisão certa, de que morar aqui é TUDO DE BOM, que a qualidade de vida vale a distância… Munida de minha energia recarregada e relembrando algumas situações desagradáveis vividas lá, comecei um novo ciclo cheia de esperança, acreditando que, enfim, ia demorar para sentir falta de tudo que ficou para trás! Que engano! Apenas um ano depois, cá estou eu com uma saudade quase insuportável dentro do peito, disposta à viver tudo outra vez, apenas para estar perto de algumas pessoas que deixei lá…

Claro que alguns fatos desencadearam a minha “homesick” atual. Falei ao telefone com minha mãe por um tempão no último domingo, com meu irmão que estava passando uma semana na casa dela, e relembramos coisas boas e bons momentos compartilhados. Hoje minha irmã deixou uma mensagem no meu Facebook, também relembrando minha ida no ano anterior. E por fim, o golpe final: revi as fotos que tiramos lá e relembrei cada momento vivido! Pronto. Agora é fato. Tenho uma nova doença crônica: a síndrome da saudade da viagem das férias de Julho! Hahahahahah!

Conversando com uma amiga brasileira no último fim de semana, concluímos que a verdade é UMA SÓ: saudade é uma doença crônica. Vai e volta. Melhora e piora. Some e reaparece. Basta um pequeno detalhe, uma lembrança, um cheiro, uma música, uma foto, um pensamento, e lá vem ela forte e insuperável, arrasando com as certezas que a gente “ACHAVA” que tinha. E a conclusão mais profunda de nossa conversa: o pior problema é ter saído do Brasil para morar fora. Depois disso, nosso coração ficará eterna e dolorosamente dividido. Querendo estar lá e aqui ao mesmo tempo. Amando tudo que a nova vida aussie nos proporciona, mas desejando ardentemente dividir e compartilhar tudo isso com pessoas que a gente ama demais para deixar partir de nossas vidas…

Fazendo As Contas Antes De Mudar…

Talvez esse não seja um dos meus melhores posts, por isso sinta-se à vontade para nem terminar a leitura. Não estou num dia bom. E os pensamentos fluem e rolam absurdamente em dias assim. Penso que sou capaz de escrever um livro inteiro em dias típicos como esse. Mas por enquanto, vou me contentar com um post. Se ele ficar muito extenso, me desculpe. Mais uma vez, sinta-se livre para não ler.

Escrevo hoje especialmente para aquelas pessoas que estão planejando morar fora, na Austrália ou em qualquer outro buraco desse mundo! Sair do país, de perto da família, dos amigos, de tudo que você tem e vive. De tudo que talvez hoje te encha o saco, que faz você sentir que precisa FUGIR, que faz você sonhar com uma vida totalmente nova e diferente. Mas quero ser clara nesse momento: você já fez as contas? Tem um versículo bíblico que eu amo, dizendo exatamente isso: ” Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la?” Isso está em Lucas 14:28.

Procuro sempre me lembrar disso em minha vida, pensando: estou pronta para isso? Vou dar conta? Vou terminar o que me propus? Se tem uma coisa que detesto nessa vida, é começar algo e não terminar. E olha que sou bem experiente na questão. Vamos direto ao ponto. Você tem colocado na balança TUDO o que significa morar longe? “Fazer as contas” não é apenas financeiro; é emocional, é cultural, é pesar o que realmente tem valor prá você!

Sabe por que me sinto no direito de questionar sobre isso? Meu pai está com a saúde bem debilitada. Vai ser submetido à exames mais específicos por esses dias, já que não se sabe o motivo de alguns sintomas. Ele tem diabetes, é de idade avançada e tudo isso complica, é verdade. E nesse momento, que estou tão longe, tenho coragem de confessar à vocês: falhei ao fazer as minhas contas. As emocionais. Não dou conta disso. Tenho pânico só de pensar em perder meus pais nessa lonjura. Ou um deles. Ou ambos.

Se você é alguém apegado à família, eu sugiro: faça e refaça as contas quantas vezes forem possíveis ou necessárias. Se você não é (como eu já pensei um dia que eu não fosse), também pense nisso. E muito. Porque a distância amolece corações. Derruba muros dentro da gente. Faz até o mais durão de coração sentir falta dos seus. Ela é cruel. No meu caso, eu já estava fora da minha cidade natal há 11 anos, mas chegava lá de carro em, no máximo, 3 horas. Hoje, não chego em menos de dois dias, mesmo que encontre uma passagem milagrosa de um dia para o outro. Sem contar o preço da tal…

Nesses anos que estamos vivendo aqui, a coisa mais importante que aprendi foi o quanto eu desperdicei tempo de estar com a minha família. Tive meus motivos, que hoje me corroem por dentro, mas tento trabalhar isso em meu interior. Não sei qual é o seu motivo; trabalho em excesso, mágoas do passado, falta de tempo, falta de vontade, sei lá… Só sei que não deveria ser assim… E, acredite, estando longe, tudo se potencializa. Estando MUITO longe, tudo se potencializa duplamente. Faz a gente enxergar o que perdeu. E o que continua perdendo. Ou o que vai perder no futuro.

De novo, eu aconselho: faça as contas. Refaça. Sonde muito bem se tudo de fato vale à pena. Posso te garantir que, uma hora, a vontade de comer as comidas brasileiras passa, até porque comemos muito bem por aqui. Uma hora, a saudade dos lugares que você mais gosta, passa, porque você terá novos ( e maravilhosos!) lugares preferidos. Uma hora, a saudade da língua passa, porque falar Inglês bem começa à empolgar; entender e se fazer entender ENCANTA. Uma hora, a saudade da Pátria melhora, quando você vê e sente a qualidade de vida de outros lugares. Mas a falta da família, das pessoas mais próximas à você, isso NÃO PASSA NUNCA! Frases como “ninguém é insubstituível”, perdem totalmente o valor. Hoje, em minha vida, algumas pessoas são totalmente insubstituíves. TOTALMENTE.

E quer saber? Mesmo que você não esteja longe, não vá se mudar, mas de alguma forma está distante da sua família, mude isso JÁ! Você não está lendo esse texto por um acaso… Aproveite. A gente nunca sabe o que a vida nos reserva. Perdoe, ame, abrace, ajude, releve, fique perto… O que pode importar mais do que as pessoas que a gente ama?

Faça as contas, por favor. As minhas estavam furadas. Não me preparei para isso. Não estou preparada para estar longe num momento como esse. Se não podemos estar perto na hora da enfermidade, prá que raios servem as famílias? Para os Natais? Para os aniversários? Sabe? Ele até pode não ser o melhor pai do mundo, sei disso, mas ele é o MEU PAI! Basta.

Não Aprendi Dizer ADEUS!

Uma das coisas mais chatas e dolorosas por aqui, SEM SOMBRA DE DÚVIDAS, é a constante participação em festas de despedida! Como estamos longe de casa, a maioria dos amigos que temos são pessoas que também estão longe de casa. Isso nos torna mais íntimos, mais próximos, compartilhando dores semelhantes, dúvidas semelhantes, dificuldades semelhantes, enfim, VIDAS SEMELHANTES! E como não poderia deixar de ser, nem todos estão aqui prá ficar de vez! Na realidade, a grande maioria veio para estudar, ou trabalhar em algum projeto, ou veio e decidiu voltar, por razões pessoais.

Isso torna tudo mais difícil, levando-se em consideração que morar fora nos torna mais sensíveis, mais quebrantados, trazendo às nossas amizades por aqui um significado muito mais forte! Logo que chegamos, bem no primeiro dia de Austrália, conhecemos pessoas de monte. Nem todos se tornaram nossos amigos de verdade, mas os que se tornaram, marcaram nossas vidas. E como tinha de ser, nem todos estavam aqui prá ficar…

Então, desde que chegamos, comecei a computar a dor de dizer adeus à pessoas que começavam a fazer parte dos nossos dias, das nossas vidas. Veja bem, você pode pensar: “Mas vocês estão fora há apenas 2 anos e alguns meses e já conseguiram fazer amigos que, ao partirem, provocam tanta dor?” Sim, a resposta é SIM! Quando compartilhamos sonhos, dores, frustrações, medos, dúvidas, quando precisamos de ajuda até mesmo prá comprar comida, porque você não conhece praticamente NADA, as relações tomam rumos muito mais profundos, os laços se aprofundam muito mais rapidamente do que em relações normais.

Nossa primeira despedida aconteceu logo na segunda semana de Austrália! Calma, não fizemos amigos com essa rapidez! Na verdade, quando viemos prá cá, já tínhamos bons amigos morando em Melbourne. Um grande amigo do meu marido, com quem ele morou e estudou no período da Faculdade, já estava morando aqui com a esposa e filho (Maurício, Eveline e Oliver). Por isso viemos com segurança, acreditando que as coisas seriam mais fáceis com eles aqui. Mas, advinhem? Ele foi transferido para outro Estado, no mesmo mês em que chegamos! Agora moram em Brisbane!

Logo na segunda semana, lá estávamos nós no Aeroporto de novo!

Depois de um tempo, lá vamos nós nos despedir de Raquel e Ricardo, que voltavam ao Brasil! Amigos queridos que passaram nosso primeiro Natal aqui com a gente!

Despedida no restaurante mexicano "Amigos"! Nome propício, não?

E por incrível ( e triste!) que possa parecer, uma semana depois lá se vão prá Suíça, de mudança, Cadú e Juliana, “grávidos” do pequeno Mark!

Casal querido que nos ajudou muito a RECOMEÇAR por aqui!

A próxima despedida aconteceu quando finalizei meu curso de Inglês. Você passa 5 horas por dia, 5 dias na semana, vendo as mesmas pessoas que compartilham de sua “homesick”, de suas lágrimas de saudades, da falta de sua vida anterior… Mais laços por afinidades, claro!

Senti muita falta dessa galera que me fazia rir MUITO!

Na próxima despedida, pensei que não daria conta! Marcus e Andréa, nossos amigos mais chegados, foram transferidos pros EUA! Estávamos então sem Cadú, Juliana, Marcus e Andréa, aqueles que nos deram a maior força desde que chegamos! Gente, doeu, viu?!

Eu só pensava uma coisa nesse dia: quero ir embora também!

Pensam que acabou? Antes tivesse acabado! Logo depois Patrícia, Cláudio e Laurinha terminavam seus planos por aqui! Lá vamos nós ao Aeroporto ( de novo!) chorar e dizer adeus para outros amigos do coração! Mas na despedida deles, conhecemos os casais Maurício e Natasha/ Rosana e Nixon , que agregaram à nossa turma e se tornaram MUITO queridos para todos nós! Obrigada, Pati! Você foi, mas dividiu pessoas maravilhosas conosco!

Da esquerda para a direita: Natasha, eu, Pati e Angela!

 Logo em seguida, uma das “Powerpuff Girls” deixou nossa turma de “Meninas Super Poderosas” do café da manhã! Nossas manhãs de sexta NUNCA MAIS  foram as mesmas sem ela… Sentimos falta dela toda vez que nos reunimos!

Sinto muita falta dessa família tão querida!

Recentemente, nos despedimos de outra família querida: Juliana, Daniel e Júlia linda! Também terminaram seu tempo aqui e voltaram para a Bahia!

Temos certeza de que um dia vamos nos reencontrar no Brasil, queridos!

E hoje, exatamente, estamos nos despedindo do Eugênio, Adriana, João Pedro e Luís Felipe! Somos conterrâneos dessa família querida (guaratinguetaenses, com orgulho!) e nos encontramos aqui em Melbourne depois de anos e anos sem nos vermos! Os filhos deles foram os primeiros amigos do meu filho por aqui e me lembro da alegria que senti ao ver meu filho sorrir e se divertir pela primeira vez, quando fomos visitá-los logo que chegamos!  Obrigada, queridos, pela amizade, pelo carinho, pela ajuda e companhia. Jamais nos esqueceremos de tudo que vivemos juntos por aqui!

Famílias Amigas!

Sei que esse post ficou enorme, como o vazio que fica no coração da gente quando temos que nos despedir de pessoas que amamos! Mas termino deixando um caloroso “ATÉ BREVE” à todos vocês que conquistaram um lugar especial em nosso coração!