Ontem recebi um email interessante de uma amiga muito querida (também imigrante na Austrália), que vive os mesmos dilemas de todos nós, com a seguinte pergunta: “E nós? Também vamos desistir, ou vamos conseguir nosso tão sonhado ‘lugar ao sol’ aqui em Down Under?” Em anexo, havia um link para uma reportagem de uma rede de notícias australiana, chamada Seven News. O artigo era tão interessante, que valeu uma tradução para ser publicado aqui no Blog. É importante frisar que o texto abaixo NÃO É DE MINHA AUTORIA e não representa ou expressa minha inteira opinião pessoal; estou apenas transcrevendo aqui. O nome do artigo é exatamente o nome do post: “Migrantes deixando a Austrália” – escrito por Adam Marshall, para o Today Tonight.
“Eles vieram de várias partes ao redor do mundo, perseguindo o sonho australiano, mas agora muitos deles mal podem esperar para voar de volta pra casa. O que estaria causando esse êxodo em massa? Os números mais recentes mostram que imigrantes estão deixando a Austrália em números recordes. Há aqueles que querem permanecer e aqueles que não podem mais esperar para sair. A grama, que supostamente seria mais verde do lado de cá, parece estar ‘queimada pelo sol’ e está perdendo o seu apelo.
Só no ano passado, o número de pessoas que vieram para viver aqui caiu em nove por cento, ficando em torno de 127.000. Por outro lado, 88.000 planejaram seu retorno, para nunca mais voltar; isso é o dobro de uma década atrás. A agente de viagens Lisa deixou os Estados Unidos há dez anos atrás e agora ela está entre as dezenas de milhares de imigrantes que querem voltar para casa. ‘Acho que os australianos em geral não têm muita aceitação de estrangeiros. Televisões, geladeiras, automóveis, são o dobro ou o triplo do preço aqui, comparado aos EUA. Filmes levam em torno de três meses para chegar aqui e não há quase nada para fazer à noite. Tudo o que eu penso é em como fazer pra voltar para casa,’ disse Lisa.
Juntando-se à fila, estão Kevin e Lynne Ward. Vindos da Inglaterra, o casal mudou-se para Perth. Quando fizeram a aplicação para o visto, antes de virem para cá, Kevin – um encanador qualificado – soube que a profissão dele estaria em demanda. Era bom o suficiente para obter um visto de imigrante qualificado, mas não bom o suficiente para conseguir um emprego, quando ele finalmente chegou com sua família. ‘Se você é um encanador Inglês, com todas as qualificações sob o sol, você também pode jogar isso tudo no lixo – porque não vale como está escrito no papel,’ disse Kevin. Mas quando finalmente os Wards chegaram, disseram a Kevin que ele precisaria treinar. Decidiram então voltar pra casa, com a sensação de que eles foram vendidos a um fracasso. 30.000 km, ida e volta. ‘Acabamos ligando para a companhia de mudança e pedindo pra deixarem tudo dentro do container, bastando devolver em linha reta ao local de origem,’ disse Lynne. A aventura custou-lhes $100.000 dólares.
Daphne Loffman é uma enfermeira que se mudou para Perth com sua família, vindo da Inglaterra, esperando por um estilo de vida melhor, mais fácil. Mas nada tem sido assim. ‘Tudo é mais caro. Queríamos permanecer aqui. Não gastamos dinheiro, tempo e esforço, para dar uma risada, sentar aqui e lamentar-se sobre a decisão,’ Daphne disse. Vir para a Austrália exige um compromisso enorme e é um exercício caro. ‘Eles me disseram que o processo levaria de dez a quinze anos, e se eu quisesse cidadania, eu teria que desembolsar cerca de $34.000 dólares’, disse Jan Peters. Ela realmente quer ficar na Austrália, mas teme que, em breve, tenha que se mudar de volta para casa, na Nova Zelândia. ‘Isso deixa uma sensação de buraco no estômago, mesmo que você esteja contribuindo, trabalhando duro e fazendo uma boa vida, mesmo fazendo as coisas certas’, disse Peters.
Assim como ela, tantos outros imigrantes acabam vivendo num carrossel, com tantas normas, regulamentos e burocracia na Austrália, que acabam forçando as pessoas para fora do país. ‘Eu tinha as recomendações e não vejo o motivo de passar de novo pelo processo de aplicações. Talvez eu devesse,’ ela disse. Personalidade de televisão e rádio, Jono Coleman pensa que ‘ a Austrália tem um pouco de problema em sua imagem mundial.’ De acordo com Coleman ‘ a vida é mais cara, a gasolina é mais cara e ir ao supermercado é também mais caro.’ Ele perseguiu fama e fortuna de volta à sua pátria, antes de se mudar para a Austrália. Vendo de ambos os lados, ele diz que é hora de uma revisão da imagem , porque a reputação da Austrália no exterior está ficando na lixeira. ‘Há uma piada que gira em torno do Reino Unido: ‘qual é a diferença entre um pote de iogurte e um australiano?’ E eles dizem ‘o pote de iogurte tem mais cultura’, brincou Coleman.
E a Austrália está, de fato, ficando cada vez mais cara. Um relatório do grupo de reflexão de políticas públicas, um centro de estudos independente, demonstrou que nosso custo de vida está ficando fora de controle. Sydney, Melbourne e Brisbane estão agora entre as top vinte cidades mais caras do mundo; há uma década atrás, apenas figuravam no top 100. ‘Hoje essa é uma das coisas que não compreendemos sobre a Austrália – nós não somos apenas um país de grande imigração, mas nós somos também um país de grande emigração,’ disse o Professor Graeme Hugo, Chefe do Centro de Estudos de Migração e População Australiana, da Universidade de Adelaide.
O Professor Hugo diz que é hora do Governo Federal focar mais em conter a debandada no exterior, em vez de tentar afastar os imigrantes. ‘O aumento do custo de vida na Austrália pode ser um dos fatores que incentivam algumas pessoas a voltarem para trás. Eu acho que muitos voltam porque eles perdem essa interação com a família e também fatores de estilo de vida. Você sabe, as coisas não saem bem como esperavam’ disse o Professor Hugo. O pior é que estamos perdendo nosso melhor e mais brilhante grupo de trabalhadores, altamente qualificado e estudado, procurando viver em outro lugar. ‘Muitas vezes penso que a Austrália também poderia fazer melhor para ter uma política de emigração, bem como uma política de imigração,’ disse o Professor Hugo. Porém, pode ser tarde demais, especialmente para os migrantes já no seu caminho para casa.”